Mitos & Verdades Sobre Osteoporose
Dietas ricas em proteínas promovem perda óssea?
Por Sally Fallon e Mary Enig
Trad.: José Carlos Peixoto
É estimado que entre 15 a 20 milhões de americanos sofram de osteoporose – um enfraquecimento dos ossos que pode levar a um risco aumentado de fraturas, dores nas costas e limitação, freqüentemente produzindo prolongado sofrimento. Uma teoria propôs explicar sua prevalência nos EUA por conta de uma dieta rica em proteínas, por um consumo excessivo de carne.
A teoria protéica foi primeiramente apresentada em 19681 e perseguida em 1972 com um estudo comparando a densidade óssea entre vegetarianos e consumidores de carne2. Vinte e cinco lacto-ovo vegetarianos britânicos foram combinados em idade e sexo com um número igual de onívoros. A densidade dos ossos, determinada pela leitura radiológica do terceiro dedo do metacarpo, pareceu ser significativamente mais alta nos vegetarianos. Dois anos mais tarde, um estudo em esquimós do Norte do Alaska reportou uma perda óssea, determinada por uma técnica chamada de absortometria com fóton direto (direct photon absorptiometry), que era significativamente maior em esquimós do que em caucasianos, começando em uma idade mais precoce3. Embora os padrões de crescimento e densidades ósseas em crianças fossem semelhantes para ambos os grupos, na idade dos 70, em esquimós eram encontrados densidades ósseas 15% menores a dos brancos, sendo que as mulheres esquimós chegavam a 30% de perda na comparação com as mulheres brancas. Os autores do estudo atribuem o declínio da massa óssea ao estilo de dieta rico em proteína dos esquimós, especialmente seu conteúdo rico em carne. Alguns estudos com animais, assim como também estudos adicionais com humanos, indicam que dietas ricas em proteína também teriam uma perda maior de cálcio e ossos mais fracos do que referências de controle com dietas com menos proteína.
Mas as pesquisas pioneiras do Dr. Weston Price indicam que nós não deveríamos aceitar a teoria da proteína sem pesquisa adicional. O Dr. Price encontrou muitos grupos ao redor do mundo que subsiste com dietas ricas em carne. Embora ele não estudasse diretamente a densidade óssea nessas pessoas, ele estudou seus dentes. Ele verificou naqueles grupos com dietas ricas em carne - inclusive esquimós do Alaska - havia uma alta imunidade contra a decadência dentária, que eram robustos e fortes, e virtualmente livre de doença degenerativa. Os grupos que subsistiam principalmente com alimentos de origem vegetal tinham dentição menos robusta e com mais decadência de dentes. Os esqueletos pré-colombianos de índios Americanos cujas dietas consistidas largamente de carne não mostravam nenhuma osteoporose, enquanto naqueles índios com dietas largamente vegetarianas indicavam uma incidência alta de osteoporose e outros tipos de degeneração do osso. A implicação das pesquisas do Dr. Price e outros estudos antropológicos é de que as dietas ricas em carne protegem contra osteoporose. Como nós explicamos esta discrepância?
A pesquisa do Dr. Herta Spencer, do Hospital de Administração de Veteranos em Hines Illinois, nos fornece algumas pistas. Ela observou que os estudos com animais e humanos correlacionavam perda de cálcio com dietas ricas em proteína utilizava aminoácidos fracionados e isolados do leite ou ovos4. Seus estudos mostraram que quando a proteína era recebida como carne, os sujeitos do estudo não mostraram qualquer aumento na excreção de cálcio, ou qualquer mudança significativa no cálcio sangüíneo, mesmo após longos periodos5. Outros investigadores verificaram que um consumo rico em proteína aumentou a absorção de cálcio quando cálcio dietético era adequado ou alto, mas não quando o consumo de cálcio era abaixo de 500 mg por dia6.
Os livros textos de ensino nos informam que o corpo humano necessita de vitamina D para utilização de cálcio, e vitamina A para assimilação de ambos: cálcio e proteína. A proteína ofertada em pó perde esses co-fatores lipossolúveis que o corpo pode utilizar para construir e manter ossos saudáveis.
A vitamina D sintética, por outro lado, pode fazer hipercalcemia, uma perturbação do equilíbrio do cálcio que leva ao excesso de cálcio no sangue e calcificação tecidual7. A vitamina D sintética adicionada ao leite comercial não tem o mesmo efeito benéfico da vitamina D do óleo de fígado de bacalhau para prevenir raquitismo e fortalecer os ossos.
Gorduras, especialmente gorduras de origem animal, também fornecem vitamina K utilizável. Este nutriente é associado à coagulação do sangue - indivíduos que perdem a habilidade de usar vitamina K sofrem de hemofilia e risco de hemorragia descontrolada quando feridos. Mas a vitamina K também desempenha um papel importante no metabolismo de osso. A vitamina K está mais disponível em gorduras lácteas do que nos óleos de origem vegetal. Os estudos indicam que a vitamina K é mais completamente absorvida dos legumes consumidos com manteiga que com legumes comidos puros8. A vitamina K também é produzida pela flora intestinal. O uso de antibióticos pode inibir a produção de vitamina K, levando à perda óssea. O consumo de alimentos lacto-fermentadas como iogurte e o tradicional sauerkraut (chucrute) promovem o crescimento de uma flora benéfica no intestino, e conseqüentemente contribui para ossos saudáveis.
A vitamina E, lipossolúvel, também desempenha um papel em promover saúde óssea, protegendo o mecanismo de depósito do cálcio da quebra de radicais livres. Em um estudo recente, investigadores da Universidade de Purdue verificaram que os níveis altos de radicais livres originados do ômega-6 (ácido linoléico) (encontrado principalmente nos óleos de milho, soja e girassol) interferem com a formação do osso, mas a vitamina E deu a proteção necessária em uma dieta rica em poliinsaturadas9. Adicionalmente, foi verificado que os níveis altos de gordura saturada também deram proteção. Isso é correto, as amplamente difamadas gorduras saturadas, encontradas em gorduras tropicais, manteiga e outras gorduras animais, desempenhem um papel importante na modelagem de osso. Isto pode ser um aspecto importante para grupos de populações em áreas tropicais, onde o coco e a gordura de palma participam como componentes importantes da dieta tenham muito pouca osteoporose.
A perda óssea em mulheres coincide com a diminuição de estrogênio e progesterona no início da menopausa. Mas evidências arqueológicas indicam que a menopausa não necessariamente promove osteoporose. Os esqueletos humanos de mulheres Huguenot com idades entre quinze e oitenta e nove anos recentemente exumado em Londres mostraram pequena diferença na densidade dos ossos entre as mulheres pré-menopausa e as pós-menopausa10. Uma vez mais, o papel de gorduras animais na dieta pode explicar esta contradição. A vitamina A das gorduras animais é absolutamente essencial para a saúde inteira do sistema glandular, e conseqüentemente a produção regular contínua de hormônios pelo longo da vida. A reposição hormonal freqüentemente recomendado para a prevenção de osteoporose não é um substituto ideal para os hormônios naturais produzido em organismos corretamente nutridos. O estrogênio também é sintetizado no tecido adiposo (gordura)11. Talvez seja por isso que as mulheres naturalmente ganham algum peso extra na menopausa. A gordura corporal adicional faz o suprimento extra de estrogênio e as protege de uma perda óssea. Manter uma silhueta esbelta na meia idade, por perda de peso ou lipoaspiração, não confere necessariamente benefícios para a saúde. As mulheres muito magras têm muito mais risco em perder osso do que aquelas que se permitem apreciar comida boa, saudável e se torna agradavelmente rechonchudas12. Muitas mulheres fumam cigarros para reduzir seu peso, um hábito que reduz a concentração de estrogênio na corrente sangüínea e inibe seus efeitos13.
Apenas dieta rica, saudável e variada pode fornecer os diversos nutrientes necessários para o processo complexo que mantém a integridade de nossos ossos. Produtos lácteos, legumes, nozes, carne e tradicionais caldos de osso fornecem cálcio. A pesquisa do Dr. Spencer indica que a necessidade de mulheres em pós- menopausa é de mais ou menos 1200 mg de cálcio por dia - mais 400 do que a dose diária recomendada de 800 mg14. Um quarto de galão (aprox.: 1,1012 litros) de leite integral, ou seis onças (aprox.: 170gramas) de queijo natural integral fornecem um ótimo de 1200 mg de cálcio. Os indivíduos com uma baixa tolerância em produtos lácteos devem tomar cuidado extra para obter suficiente cálcio dietético. Peixe, galinha ou caldo de carne de boi, preparados com um pouco de vinagre para puxar o cálcio dos ossos, são fontes excelentes, e forneceram cálcio de facilmente assimilação para povos pré-industrializados ao redor do globo. Legumes verdes folhosos, grãos, nozes e sementes também são boas fontes se corretamente preparadas. Os legumes e grãos deviam ser consumidos com gorduras animais como manteiga ou ovos; e as nozes, legumes e grãos deviam ser embebidos, germinados ou fermentados para neutralizar o ácido fítico, uma substância que pode bloquear a absorção de cálcio15.
As cinzas ácidas da carne são dadas como causa pela qual as dietas com carne levam à perda óssea. Mas as carnes também fornecem fósforo, que se contrapõe a essa acidez. O fósforo é necessário para o componente fosfato da matriz óssea. As carnes também são fontes excelentes de vitamina B12, que participam segundo pesquisas recentes, mas cujo papel é discretamente compreendido na manutenção da integridade óssea16.
Alimentos vegetais como frutas, especialmente maçãs, nozes e grãos fornecem boro, necessário para a conversão da vitamina D para sua forma ativa, e para a formação de estrogênio. O iodo encontrado no sal marinho natural, frutos do mar e na manteiga ajudam a manter os ovários e a glândula tiróide saudável, ambos os quais exercem um papel para manter a integridade do osso. O magnésio, encontrado em alimentos integrais, também contribui para a saúde dos ossos como faz o fluoreto natural, presente na água bruta como fluoreto de cálcio. O cromo pode também contribuir para a saúde do osso normalizando a atividade da insulina. O diabetes tipo I são propensos para a osteoporose. O picolinato de cromo foi reconhecido como redutor da quantia de cálcio excretado na urina assim sendo um protetor contra a perda óssea17. Carboidratos refinados como o açúcar e a farinha branca podem conduzir à deficiência de cromo.
Porém o fluoreto de sódio adicionado à água potável é uma das várias substâncias que é prejudicial para nossos ossos. Causa um aumento aparente na massa do osso, mas a estrutura desse osso é anormal e fraca18 - estudos recentes indicam que as fraturas de quadril são mais comuns em áreas onde a água é fluoretada19.
Um dentista recentemente distinguido, Dr. Melvin Page, demonstrou que o consumo de açúcar desequilibra a homeostase (equilíbrio) do cálcio e do fósforo no sangue. Normalmente, esses minerais existem em uma relação precisa de dez por quatro (rel. Ca/Ph = 10/4). O consumo de açúcar provoca uma redução do fósforo e um aumento do cálcio no soro20. O cálcio no soro em excesso, que se origina dos ossos e dentes, não pode ser completamente utilizado porque os níveis de fósforo são muito baixos. É excretado na urina ou armazenado em depósitos anormais como pedras do rim e da vesícula. A cafeína também perturba o equilíbrio natural de cálcio e fósforo, e promove aumento da excreção do cálcio pela urina. O ácido fosfórico dos refrigerantes é uma causa importante de deficiência de cálcio em crianças e osteoporose nos adultos21. O alumínio de antiácidos, latas e da poluição, também contribui para a perda óssea22.
A osteoporose está freqüentemente associada com consumo excessivo de álcool23. Isto é uma provável explicação para a perda óssea dos esquimós, que são altamente propensos para o alcoolismo. O fato de que os esquimós comem carne compulsoriamente pode também explicar sua suscetibilidade para ambos: o alcoolismo e a perda de osso. Grupos isolados como povos Esquimós e Irlandeses da costa marinha, cuja dieta tradicional teria sido rica em óleos marinhos, podem ter a falta de enzimas necessária para produzir ácidos graxos de cadeia muita longa, não saturados para a produção de prostaglandinas24. Pessoas com herança ártica ou da costa marinha eram sábias em suplementar sua dieta com óleo de fígado de bacalhau, uma fonte rica de ácidos graxos de cadeia muito longa necessárias para virtualmente qualquer processo metabólico.
Mesmo pequenas mudanças na dieta nativa de populações que se alimentam de carne os tornam vulneráveis para doenças degenerativas como a osteoporose e alcoolismo. Um artigo recente com Inuits canadenses indica que alimentos comerciais como geléias, pão branco e manteiga de amendoim substituíram um percentual de carne na sua dieta, mesmo quando eles continuam a manter um estilo de vida tradicional25.
O estudo de 1972 que comparou vegetarianos britânicos e onívoros pede um comentário adicional. As determinações de densidade de osso por absorptiometria ou Raios-X são altamente sujeitas a erros26, especialmente em estudos abertos (“unblinded”) quando os pesquisadores podem ser parciais para obter os resultados predeterminados. Os sujeitos foram sumariamente combinados em idade, altura e sexo, mas não quanto à composição corporal e a hábitos dietéticos como cigarro, açúcar, café e consumo de álcool. Um grupo de onívoros que fuma, e bebe favorece a uma dieta pobre em cálcio rica em carboidratos refinados naturalmente terá uma propensão maior para a perda óssea em relação a um grupo com mais consciência de cuidados com a saúde como os lacto-ovo-vegetarianos que consomem bastante produtos lácteos. (Os vegetarianos britânicos, de fato, tendem a ter muito mais consciência de saúde, não apenas evitando carne, mas também álcool, cigarros, café e refrigerantes. Diversamente de vegetarianos americanos, eles entendem a importância de produtos de granja integrais ricos em cálcio na dieta e comem abundantemente leite, queijo, manteiga e ovos.) Quando pesquisadores comparam os efeitos de dietas ricas em carne com dietas normais na mesma pessoa, nenhum efeito adverso é encontrado, mesmo após longos períodos de tempo27.
As pessoas que entendem ser melhor ter uma alimentação rica em carne não precisam, então, ter maior preocupação com a osteoporose, desde que em sua dieta se inclua gorduras animais complementares, com bastante cálcio e uma variedade de outros alimentos integrais preparados corretamente.
Referências:
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Copyright: © 2000 Sally Fallon and Mary G. Enig. All Rights Reserved. First published in Price-Pottenger Nutrition Foundation quarterly journal, (619) 574-7763.
Sobre as autoras:
Sally Fallon Morell é a autora de “Nourishing Traditions: The Cookbook that Challenges Politically Correct Nutrition and the Diet Dictocrats” (com Mary G. Enig, PhD), uma profunda pesquisa, um guia provocante dos alimentos tradicionais com uma linha base: Gorduras animais e colesterol não são vilãos, mas fatores vitais da dieta, necessários para o crescimento normal, funcionamento apropriado do cérebro e do sistema nervoso, proteção contra doenças e ótimos níveis de energia. Ela juntou esforços com Enig mais uma vez para escrever “Eat Fat, Lose Fat”, e escreveu numerosos artigos sobre o tema dieta e saúde. É presidente da Weston A. Price Foundation e fundadora de “A Campaign for Real Milk”, Sally também é uma jornalista, chef, pesquisadora nutricional, artesã, and ativista comunitária. Seus quatro saudáveis filhos cresceram com alimentos integrais incluindo manteiga, nata, ovos e carne.
Mary G. Enig, PhD é uma expert de renome internacional no campo da bioquímica dos lipídios. Ela lidera um grande número de estudos sobre gorduras trans na América e Israel, e foi bem sucedida em desafiar os governos sobre as alegações de que dietas com gordura de origem animal causassem câncer e cardiopatia. A atenção recente da ciência e da mídia para os possíveis efeitos adversos para a saúde das gorduras trans trouxe incremento de atenção ao seu trabalho. Ela é uma nutricionista licenciada certificada pelo Conselho de Especialistas em Nutrição, como uma qualificada expert, consultora de nutrição individual, industrial e para governos estaduais e federal, editora contribuinte para um grande número de publicações científicas, membro do American College of Nutrition e presidente da Associação de Nutricionistas de Maryland. Ela é a autora de cerca de 60 artigos técnicos e apresentações, tanto como uma popular oradora. A drª. Enig está atualmente trabalhando com o desenvolvimento de pesquisa de terapias adjuntas contra a AIDS utilizando ácidos graxos de cadeia média, completamente saturados, a partir de alimentos integrais. Ela é a Vice-Presidente da Weston A. Price Foundation e editora científica de “Wise Traditions” como também é a autora de “Know Your Fats: The Complete Primer for Understanding the Nutrition of Fats, Oils, and Cholesterol”, Bethesda Press, May 2000. Ela é a mãe de três saudáveis crianças crescidas com alimentos integrais como manteiga, nata, ovos e carne.
Este blog tem a finalidade de publicar as terapias que realizo, atualizar infos sobre artigos de saúde e dar dicas interessantes aos meus seguidores. www.andreaconeglian.com.br
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