A ciência da fé
Veja - Edição 1 731 - 19 de dezembro de 2001
Pesquisadores usam o método
científico para tentar explicar
fenômenos da religião e os efeitos
das preces e da meditação
sobre o organismo
Afinal, o que é um milagre? Pergunte a um cientista e ele certamente dirá que é algum acontecimento cuja ocorrência não se explica pelos mecanismos de funcionamento das leis naturais. Exatamente por esse motivo, até há bem pouco tempo essas ocorrências eram tidas como algo fora do objeto da ciência. Deveriam, portanto, ser tratadas no campo da metafísica, por pessoas que se ocupam de fenômenos sobrenaturais, os místicos e religiosos. Contrariando a corrente, porém, nos últimos anos um número considerável de pesquisadores tem tentado aplicar o método científico para explicar eventos antes rotulados de sobrenaturais. Não se trata de uma rendição. A boa ciência continua sendo feita com base em provas factuais e na idéia de que um experimento só deve ser considerado científico se puder ser repetido, independentemente, por diversos laboratórios. Mas existe uma mudança significativa no ar.
Cientistas renomados aceitaram trabalhar com religiosos do Vaticano para tentar provar a autenticidade do Santo Sudário, o manto de linho que teria sido usado para cobrir o corpo de Jesus depois da crucificação. O lendário aventureiro Robert Ballard, que se tornou famoso por encontrar os restos do transatlântico Titanic, revelou recentemente que usará seus submarinos para vasculhar o fundo do Mar Negro, onde espera achar provas materiais do dilúvio descrito no Velho Testamento. O cardiologista americano Herbert Benson, da reputada Universidade Harvard, estudou durante cinco anos pacientes que aprenderam técnicas de meditação para tentar controlar suas doenças coronárias crônicas. Ao cabo de cinco anos, Benson notou que os pacientes que meditavam disciplinadamente todos os dias tiveram taxas de recuperação superiores às do grupo de doentes que nunca levaram a sério a meditação. Sua conclusão é que a melhora do grupo de pacientes que meditaram pode ter sido apenas um indicador de que eles eram pessoas mais aptas a sobreviver. Ou seja, como eram disciplinados, tomavam seus remédios, cuidavam da dieta e se exercitavam com mais freqüência que os pacientes do outro grupo. Benson, no entanto, prefere não descartar a hipótese de que alguma mudança química no cérebro dos pacientes que adotaram a meditação possa ter ajudado a apressar a recuperação.
O médico americano ouviu, repetidamente, dos pacientes que meditaram em profundidade a afirmação de que eles se sentiram na presença de um "ser superior". Benson sugeriu até mesmo a existência do que alguns de seus colegas chamaram de "hormônio da fé". No caso, trata-se de um supressor de outros hormônios cuja concentração no organismo cresce quando a pessoa passa por muitas e prolongadas experiências estressantes. O cardiologista de Harvard descobriu que a meditação profunda pode ajudar a baixar a concentração dessas substâncias. "Uma atividade que consiga manter a mente sob certo controle a ponto de alterar a ação hormonal pode potencialmente ter impacto positivo sobre o sistema imunológico", diz David Felten, do Centro de Neuroimunologia da Universidade de Medicina Loma Linda, na Califórnia.
No Centro de Estudos da Ciência e da Religião da Universidade Colúmbia, um programa investiga como as experiências espirituais afetam fisicamente a química e a estrutura do cérebro humano. Em dezembro de 2000, o Jornal de Estudos da Consciência dedicou sua edição para assuntos religiosos que abordavam desde visões cristãs até "estados xamânicos da consciência". O objetivo dessas novas pesquisas é tentar medir o que acontece na mente das pessoas quando elas se sentem em transe religioso ou num estado de elevação espiritual. Os cientistas mediram, com a ajuda de equipamentos especializados, quais regiões do cérebro são ativadas durante as preces e meditações. No livro Por que Deus Não Vai Embora, o radiologista Andrew Newberg, da Universidade da Pensilvânia, descreve o resultado da que é considerada a mais bem-sucedida dessas medições.
Newberg e seu colaborador Eugene d'Aquili recrutaram budistas tibetanos e freiras franciscanas que aceitaram ser cobaias de um experimento. Eles foram submetidos a exames de tomografia computadorizada que mediram as alterações físicas de seu cérebro nos momentos de êxtase religioso. As imagens do cérebro dos budistas mostraram que o córtex frontal, a área de atenção cerebral, foi especialmente ativado naqueles instantes. Por outro lado, os neurônios do lobo superior parietal, região conhecida como a área que controla as funções visuais e motoras do ser humano, foram desligados. Ainda é cedo para entender as implicações dessas experiências. Mas os cientistas consideram enorme avanço conseguir observar numa tela de tomógrafo "as impressões digitais químicas e elétricas da fé", como descreveu Newberg.
O envolvimento de pesquisadores de universidades renomadas, como Colúmbia e Harvard, no estudo das interações entre a religião e a ciência está se dando num nível bem superior ao dos simples instrumentos de medição. As questões teóricas que estão sendo propostas por cientistas talvez tragam mais inquietação à alma investigativa que a descoberta de que certas áreas do cérebro trabalham mais ou menos durante um transe mediúnico. "Fizemos assombrosos avanços, mas temos de reconhecer que a ciência não respondeu a alguns dos enigmas básicos, como a origem da vida e do universo", diz Stephen Jay Gould, o formidável pesquisador e ensaísta americano, que seria o último ser vivo da Terra a ser acusado de misticismo.
Colega e eminente adversário intelectual de Gould, o biólogo Ernst Mayr, da Universidade Harvard, também concorda que apenas o desenrolar das leis naturais talvez explique o surgimento da vida na Terra – mas isso certamente não pode ser invocado para explicar o aparecimento de seres inteligentes. Lendário pelo ceticismo, Mayr não fala em milagre. Nem pode. Ele é considerado o maior neodarwinista vivo. Mas seu cálculo sobre a possibilidade de a natureza produzir seres inteligentes pelos processos evolutivos conhecidos é quase uma sugestão de que os seres humanos são mesmo produtos sobrenaturais. Mayr lembra que, de 30 milhões de espécies vivas atualmente, somente uma, o Homo sapiens, desenvolveu inteligência superior. Cerca de 50 bilhões de outras espécies vivas ou que já viveram e sumiram da face do planeta nunca atingiram o estado de desenvolvimento cerebral do homem. Mayr adiciona a seu cálculo o fato de que a média de sobrevivência de uma dada espécie na Terra é de cerca de 100.000 anos. Ou seja, a inteligência tem de nascer e se desenvolver nesse período de tempo, equivalente a uma fração de segundo quando comparado às eras geológicas do planeta. "A conclusão é que o surgimento da inteligência na raça humana foi um evento fortuito, raríssimo, e cuja possibilidade de vir a ocorrer de novo num ambiente natural, digamos, em outro planeta, é um número astronomicamente pequeno", diz Mayr. Diante de uma explicação como essa, portanto, não é difícil entender por que teólogos e outros religiosos consideram o surgimento da razão um milagre. De certa forma, como se viu pela equação proposta por Mayr, a boa ciência também considera.
Os grandes cientistas quase sempre enfrentaram oposição da Igreja, especialmente da hierarquia católica em seus períodos de grande poder temporal, como ocorreu com Galileu Galilei no século XVII. O sábio de Pisa comprovou a teoria de Nicolau Copérnico sobre a disposição do sistema solar, em que o Sol ocupava o centro e a Terra era apenas um dos planetas em sua órbita. Por absoluta inércia, a Igreja insistia em que a Terra era o centro do universo. Diante da perspectiva de ser queimado na fogueira por heresia, Galileu recuou publicamente de sua demonstração da teoria de Copérnico. Mas não renunciou à ciência, contam seus biógrafos, nem a sua crença em Deus. Outro grande gênio da humanidade, Charles Darwin, atrasou por delicadeza em duas décadas a publicação de sua descoberta da evolução dos seres vivos. Darwin não queria ferir os sentimentos religiosos do pai, da mulher, Emma, e de Robert Fitzroy, seu capitão na famosa viagem ao redor do mundo no navio Beagle. Quando apareceu uma teoria parecida com a sua, ameaçando-lhe o pioneirismo na matéria, Darwin finalmente publicou A Origem das Espécies, em 1859. Seu pai já havia morrido. Emma Darwin se fechou em casa e nunca mais foi vista em ocasiões sociais. Fitzroy se suicidou anos mais tarde, deixando um bilhete com as razões. Não podia suportar o fato de ter sido colaborador involuntário de uma teoria que destruía a versão religiosa sobre a criação das espécies.
O pai da cosmologia moderna, o inglês Stephen Hawking, acha fascinante a chamada "hipótese teológica", a idéia de que entender Deus seria o alvo supremo da física, mas alerta para o fato de que o caminho para chegar lá é a ciência, e não a metafísica ou o misticismo. Quando lhe perguntam se Deus teve um papel no universo antes do Big Bang, a explosão primordial que teria criado o cosmo, Hawking admite que sim. "Acho que só Ele pode responder por que o universo existe", diz o famoso astrofísico. É lendária também a confissão de Albert Einstein sobre sua motivação básica, feita a um assistente em 1929: "Ah, se eu pudesse saber se no instante da criação Deus teve escolha de fazer um universo diferente e, caso tenha tido opção, por que é que decidiu criar este universo singular que conhecemos, e não um outro qualquer".
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